caminhada do existir

em quase quatro anos de existência física do Claviculário (meu primeiro livro solo) eu recebi muita energia boa, muito retorno afetuoso, algumas críticas certeiras e um sem número de marcações em publicações nas redes sociais e várias ressignificações.

agradeço imensamente por tanto amor. sim, me sinto amada quando sei que a minha literatura tocou alguém.

a frase emblemática do ‘capacete devia ser era no peito’ já não me faz mais sentido. hoje, pleno doismilevinteum, não há razão alguma para eu querer proteger o coração da caminhada do existir.

eu te celebro, porvir

no meio da tarde chega a mensagem, em vídeo, nove rápidos segundos onde é possível ver os olhos dela sorrir e a aplicação do imunizante viral há tanto tempo aguardado.

nem bem dei o play no vídeo e senti todo o meu corpo estremecer numa onda leve e colorida de gratidão e amor.

ah, universo, quanta emoção saber das minhas pessoas, tão amadas, sendo vacinadas e reabastecidas daquela alegria da possibilidade de, tão logo, poder ser possível o abraço, o estar perto e o aconchego!

é na escrita que aí está o meu não-abandonar-me

só me celebravam na escrita.

a frase ficou vibrando no meu corpo inteiro após aquela sessão de psicanálise. naquela tarde eu havia tido a ousadia de dizer para a analista: às vezes eu tenho raiva de você. ela deu aquele sorriso de quem já conhece esse papinho de quem tá protelando pra entrar no assunto e acredita que vai se safar.

a cada fim de tarde nessas conversas dos não-ditos sinto estar me aproximando de um magma ferveroso chamado eu mesma. há o fogo consumindo os desejos, os medos, as rédeas que inutilmente acredito segurar. labaredas bailantes que em luzes e brilhos: lume.

nunca fui a mais bonita, a mais legal, a mais inteligente, a mais divertida, a mais descolada, a mais atleta, a mais audaciosa, a mais dançarina, a mais…

o estalo veio quando a celebração me chegou pela escrita: eu era poeta! eu sabia escrever algo que tocava o outro ainda que falando de mim ou de uma história inventada.

foi na escrita que, pela primeira vez, eu brilhei ao mundo. é na escrita que aí está o meu não-abandonar-me.

SP. Aqui nasceu (outra e outra e outra vez) aquela mulher que mira neblinas

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Confesso, arrependida, que nunca quis estar aqui. Acreditava ser superestimado tanto glamour a essa cidade e ao ao ritmo de jamais descansar. Ledo engano, pura surpresa. São Paulo são milhares de pessoas que se comunicam, se buscam, dialogam e convivem entre cinzas, altitudes, cores, parques, velocidade, vida noturna agitada e a necessidade de ser sempre maior. Achei casa em São Paulo, abraços e afagos sem tamanho…

Sã Paula é essa ressignificação do que é afeto. Existe muito mais que amor em SP. Aqui nasceu (outra e outra e outra vez) aquela mulher que mira neblinas, absorve a calmaria no meio do caos e se entrega ao que alguns chamam de felicidade. Sã Paula, besha, eu volto já! Gratidão, amores.

Whitney: para o seu coração valente

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passaram os carros abarrotados de gente feliz e gritando suas alegrias. passaram as motocicletas e seus aceleradores barulhentos. passaram as bandeiras vermelhas. cantarolamos os jingles todos. sorrimos, acenamos e achamos tudo empolgante.

nada foi tão emocionante quanto ver, em seu salto agulha, bandeira aberta, tecido branco, as cores do partido, cabelo escovado, aloirado, sorriso de orelha-a-orelha: a transexual que desfilava e gritava emocionadíssima pela calçada da rua nelson alencar, diante das calçadas conservadoras e elitistas do crato, o seu cantar de liberdade!

é nesse brasil de todos e para todos que acredito.

arrebatamento e arrebentação

sonhei contigo.
foi um encontro bonito e você nunca vai saber. porque a gente se perdeu, soltamos nossas mãos, fingimos esquecer nossa história e naquele dia, mudamos de calçada para não nos cruzarmos na avenida.

passou. faz tanto tempo, já.
naquele dia não chorei e nem lamentei nada. aceitei: as coisas são como são.

mas podia ser diferente! no sonho, eu te visitava e trocávamos sorrisos, reconhecíamos nossa história e nos permitimos o abraço, no sonho.

acordei reflexiva e desejando que tudo esteja bem: o tempo, seu cabelo cacheadinho, os seus, as suas, suas escritas sobre nuvens e cotidianos.

será que um dia você saberá que todo aquele arrebatamento desembocou numa enorme arrebentação?

te desejo o salto e que você se sinta amada. pedirei a algum passarinho para te avisar que eu te quero bem.

entendi o que eu queria para a minha vida ou como não fazer um currículo

Sou uma pessoa viciada em leituras e escritas, todas elas. Trabalho com os processos de desenvolvimento dessas habilidades há mais de 20 anos, quando – em meu primeiro emprego – fui educadora de jovens e adultos. Ali, naquele território tão fértil de histórias, entendi o que eu queria para a minha vida.

As muitas leituras de mundo me provocam desejam de vida! Movida por essa paixão reconheci-me escritora e depois – a partir de uma fúria – iniciei a maior e mais bonita aventura da minha vida que é gerenciar uma editora independente que prioriza propulsionar o voo das mulheres por setecentos e vinte e cinco mil motivos ancestrais, racionais, subjetivos e porque sim.

Porque sim me define muito enquanto capricorniana. Ainda que eu não entenda bulhufas de signos, me dizem e me sei uma pessoa organizada, leal, sensata e resistente. Tudo balela! Quer dizer, organizada, eu sou. Leal, também.

Depois que a Aliás conseguiu o reconhecimento mundial e intergaláctico, decidi apostar em diversos cursos ofertados por aí. Ver e ouvir a teoria do que eu e minha equipe já fazíamos no amadorismo, de amar o que faz.

Não possuo nenhum diploma de graduação, embora tenha cursado quase uma dezena de faculdades:

  1. Letras Português (UFC)
  2. Letras Francês (UFC)
  3. Jornalismo (Estácio RJ)
  4. Enfermagem (UECE)
  5. Biblioteconomia (UFCA)
  6. Marketing (Senac)
  7. Marketing (Uninassau)
  8. Marketing (Estácio)

Decidi, por enquanto, aceitar que não consigo – mesmo – seguir a cartilha das universidades (terapia, me abraça!).

Minha estrada é cheia de aventuras e decisões que cerceiam a área cultural, como uma vez me vi sendo coordenadora de políticas públicas de uma cidade. Eu tinha várias bibliotecas pra dar conta! E sempre, sempre, sempre trabalhei com preparação e revisão textual, mesmo que nem sabendo que esse era o nome desse fazer.

Acho que escrevi uma carta. Se fosse uma entrevista em tempos possíveis sem Covid-17, ops Covid-19, estaria contando tudo isso e a minha vida inteira numa mesa de bar com cerveja e batatinha frita.